Musica 01 – Conceção – Traços do Instinto

Peça 01 – Conceção – Traços do Instinto

Contexto na performance “Raizes no Ar”

… Improviso como celebração do presente

Não sendo a obra perfeita calculada, recalculada, trabalhada, limada e aperfeiçoada ao limite até atingir o ponto da perfeição inexistente, o improviso é talvez a melhor forma de revelar aos outros “aquilo que somos neste preciso momento” uma vez que revela o que sai “instintivamente” do Ser Humano no momento em que este improvisa. Não é, portanto, senão o resultado expresso e consequente do acumular das nossas diversas vivências e conhecimento a vários níveis até ao presente momento e que se revelam assim sob a forma de reflexos imediatos quando confrontados com a necessidade de uma reação rápida.

O improviso é por isto uma celebração do ser humano que agora somos e a que fomos “desaguar” neste preciso instante. O Improviso é, portanto, uma celebração do presente.

São estes traços de essência humana/artística, estes traços do instinto que pretendo que sejam entregues na minha performance à audiência e a mim mesmo nesta peça através do recurso ao improviso livre, com o mínimo de regras possíveis.

… Momentos de Conceção

Esta peça partirá também da utopia de ter uma “página em branco” onde nada foi predefinido ou planeado em termos de preconceção e como tal onde é feita desta forma uma tentativa de maximizar o “espaço” disponível, ou seja criar um “espaço vazio”, suficientemente amplo para dar uma ideia de infinito nas possibilidades da conceção do performer.

Não será estabelecida nem mesmo uma predefinição de estrutura ou de regras para que aconteça o improviso, como é típico por exemplo nos standards de Jazz. Vai-se assim tentar valorizar a ideia da conceção neste universo onde segundo Lavoisier “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma“, vamos então potenciar e celebrar os momentos em que as ideias surgem (são concebidas), isto é os momentos em que as ideiasexistentes se misturam e consequentemente tomam formas novas, os momentos exatos em que são concebidas novas ideias, o momento exato onde se dá a transformação.

Vão-se assim criar as condições para potenciar a conceção da ideia no momento, minimizando todas as conceções previas à performance desta obra. É desta forma que se vai tentar valorizar o momento onde a ideia surge, em analogia por exemplo ao momento exato da conceção do bebé no útero da mãe, ou ao momento da conceção do universo segundo a teoria do Big Bang. É este tipo de momento que se pretende que aconteça: o momento da conceção. Pretende-se também que o mesmo se manifeste da forma mais maximizada e visível possível, na performance desta peça.

… O Silêncio como Espaço Vazio

Vai-se assim explorar o silêncio, tal como John Cage já explorou na sua obra “4:33”, este mesmo “vazio” musical, mas que neste caso será utilizado para obter um espaço para que o momento se possa expandir (para haver expansão é necessário haver espaço disponível), um espaço “virgem” no qual se pode construir/materializar algo que possa ser observado de uma forma clara e evidente.

Um espaço tanto vazio e neutro quanto possível para que possa acolher as ideias concebidas pelo performer naquele contexto especifico daquele momento único com aquela audiência especifica, naquele local especifico, naquela dimensão espaço, tempo muito especifica e irrepetível. O mesmo Espaço Vazio referido no livro de Peter Btook com este mesmo nome.

… Aquecimento: o despertar para performance

Esta peça pretende também explorar o conceito de aquecimento utilizado por grande parte dos performers antes das suas performances e até mesmo pelos desportistas. Pretende-se que este conceito seja aqui aplicado e estendido também à audiência de forma a que esta possa disfrutar de forma mais efetiva da performance.

A preparação de corpo e mente para um momento potencia a capacidade de assimilação do mesmo. Isto consegue-se, portanto através do despertar de corpo e mente para sentir, estar atento, desligar das preocupações do dia a dia, relaxar, ficar recetivo, alerta e focado nos diferentes aspetos específicos da performance.

Esta peça pretende por isto colocar todos os participantes no concerto (audiência, performer e todos os elementos envolvidos) em sintonia, preparar as suas mentes para a performance, explorando o já rerferido silêncio (espaço vazio) como forma de interiorização e de “sintonização” exponenciando as capacidades  recetivas e expressivas.

Rocolo acredita que para realmente se viver uma experiência com a máxima amplitude, é sempre necessário haver uma preparação prévia, é preciso preparar o corpo e a mente como um todo, preparar o cérebro e focá-lo nos aspetos essenciais do que se vai experienciar. Isto pressupõe o oposto ao que se cultiva nos nossos dias, que é o consumo rápido das coisas, sem “degustar”, o ficar-se a penas com uma primeira impressão baseada numa reação instintiva.

Pretende fazer uma preparação do publico para a performance. Será um modelo semelhante ao do aquecimento de um músico antes da performance, mas aqui aplicado ao público.

Este peça terá por isto e também os seguintes objetivos principais:

  • Sensibilizar e despertar os elementos do publico para a experiencia musical em conjunto que vai acontecer, preparar corpo e mente para se focarem na sensibilidade musical e artística.
  • Retirar possíveis barreiras iniciais que possam existir entre performer e publico

 

… Conceito artístico e musical de composição

Esta peça está relaciona com a História de Rocolo (personagem de performance) referida no seguinte artigo (tentar-se-á replicar, desta feita musicalmente a mesma experiência feita por Rocolo com um papel e uma caneta:”

Capitulo 4 – Traços do Instinto

Influências estéticas

Todos os estilos musicais são passiveis de ser utilizados dado que conceptualmente nesta peça pretende-se potenciar a existência de um “espaço vaizo” para acolher a liberdade da conceção no momento.

Técnicas utilizadas

Todas as técnicas são passiveis de ser utilizados dada a liberdade que se pretende nesta peça.

Interação publico

Meditação / Aquecimento

Pretende-se nesta peça que audiência e performer façam uma viagem introspetiva de forma a colocarem-se num estado de máxima sensibilidade e sintonia no que diz respeito ao contexto da performance.

Interação software “Rocolo – Audience Connection”

Serão escolhidas pessoas aleatóriamente para participar, na performance em palco.

 

Mais detalhes no Documento de Dissertação de Mestrado: PauloBastosDAP_MestradoMusicaPerformance_20180706Final.pdf